quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Minha "pequena"...

Estou devendo há algum tempo um texto para minha irmã caçula... Não que ela tenha me cobrado, mas desde que escrevi para a mais velha, fiquei com uma vozinha dizendo: "E para Fabi? O que vai ser, hem?"

De: Mariana Para: Fabiana

O que dizer a vc, minha irmã caçulinha que na verdade parece ser mais velha que eu? Calma! Digo isso em um sentido totalmente positivo: é que você é muito mais esperta e muito mais sagaz do que eu. Para mim você é, muita vezes, um mistério. Embora seja extremamente franca, é verdade, você é indecifrável, inconstante, camaleoa talvez.

Mas sei que é uma mulher retada, como se diz bem baianamente. Batalhadora, que, bem diferente de mim, sabe o que quer e sabe como chegar lá. Acredita no trabalho e se entrega a ele de corpo e alma. Sei que defende suas idéias com uma convicção assombrosa. Não só por ser esperta e inteligente, mas porque realmente sabe das coisas... Discordar de vc é para poucos e, graças Deus, vc me concede este privilégio, muito embora, grande parte das vezes meus argumentos desmontam e desabam na sua frente sem qualquer chance de reconstrução (ca ca ca).

Sabe ser doce e meiga e nunca se esquece de agradar. Sei que ama sua família e gostaria de estar mais perto, mas sua vida é tão corrida que muitas vezes, tenho certeza, não está onde gostaria de estar...

Sei que tem um humor refinado e sabe se divertir. Tem insights brilhantes e diz coisas prá lá de instigantes. Sei também que me faz refletir e pensar...

Sei ainda que tenho saudades do tempo em que éramos mais próximas, mais chegadas e que eu me sentia assim um tanto talvez sua mãe. É que você já foi tão louquinha, tão piradinha... Meu pai, coitado, quase enlouquecia e eu me sentia na obrigação te proteger. Hoje não precisa de minha proteção, aliás, talvez, a gente até tenha invertido os papéis. Não que eu tenha virado uma louquinha, é claro. Mas você é tão segura, tão cheia de certeza que eu me sinto totalmente ingênua em sua presença.

Sei também que te amo muito e que sempre haverá um espaço enorme reservado só para você no meu coração e que se, em algum momento, você precisar de colo volto imediatamente a fazer o doce papel de mãe...

quarta-feira, 9 de junho de 2010

As cinco pessoas que você econtra no céu.


Peço desculpas aos meu leitores pela demora em publicar um novo post. Ou melhor, peço desculpas a mim mesma (até porque dizer que "tenho leitores" é um pouco demais , né? he he he). Bom, é isso. Peço desculpas a este meu cantinho, aqui dentro de mim, que ficou assim abandonado todo este tempo. Mas garanto que não foi por falta de amor. Foi apenas pela minha incapacidade de dividir atenção quando estou muito empolgada com alguma coisa. É tenho este defeito, ou melhor característica: as vezes pode me trazer bons resultados; outras vezes não.

Para este retorno achei um texto escrito por Jô. Era um texto que acompanhava um presente que ela me deu no meu aniversário em 2007. O presente era um livro cujo título era As cinco pessoas que você encontra no céu. Mas na verdade, o presente mesmo foram as palavras que ela escreveu para mim. Não que o livro fosse ruim (se bem que não era lá grande coisa, he he he), mas é que o texto era tão comovente, tão gratificante que nenhum livro (e olhe que amo livros) teria a mínima chance naquele momento...

De: Giovana Para: Mariana

Mari,

Se eu fosse uma das cinco pessoas a te encontrar no céu, uma das cinco a falar por você e dar o significado de sua vida, eu diria bem alto para os anjos e santos ouvirem:

Esta pessoa, este espírito, minha irmã, me acompanhou por toda minha vida sem nunca faltar. Sem ela, eu poderia ter desistido muitas e muitas vezes... Eu não teria a mesma alegria em tantos momentos... Eu não aprenderia tanto sobre o amor, sobre a renúncia, sobre o despreendimento.

Sem esta companheira, minha vida teria tons de azul, mas nunca tão fortes. Teria gargalhadas passageiras, mas não sorrisos eternos. Teria amizades, mas nunca a maior de todas. Teria apoio, mas jamais a compreensão de almas afins.

Todas as imperfeições de um coração humano podem ser sanadas pelo amor verdadeiro. E esta minha irmã tem várias histórias de amor para serem contadas. A minha é apenas uma delas. Uma que mostra parte do valor e do significado de sua vida.

Espero que eu também saiba, enquanto Deus nos permitir andar juntas e desfrutar de alegrias e enfrentar as tristezas, te mostrar que meu amor por você é eterno e incondicional.





























sexta-feira, 7 de maio de 2010

Dri: mais que amiga... uma filha de coração.


Já tem 02 dias que futuco meu báu de mensagens, textos e cartas á procura do próximo post... Não encontrei nada que queira publicar agora. Algumas estão guardadas para um momento específico, outras simplesmente me disseram: ainda não estou pronta para ser exposta...
Bom, hoje recebi uma mensagem de Dri, aquela minha amiga do Rio.
"Oi queridas,
Se eu fosse voces, leria AGORA.
Amo vocês!
Assinado: Eu..a amante de vocês...hahahahah"
Li imediatamente, obvio; e era uma mensagem sobre as mães, ou melhor sobre três mães. Eu era uma delas! Fiquei comovida com a homenagem e descobri que aquele era o texto do meu próximo post.

De: Adriana Para: Carla Para: Mariana Para: sua MÃE por escolha...

"Dia das Mães pra mim é Lojas Marisa, Riachuelo, Zara, C&A e afins. Não me comove. Nunca me comoveu na verdade. Só conseguia tirar algumas lágrimas minhas quando eu tinha lá meus 10, 11 anos e lembrava que não tinha a minha mãe (desencarnou no meu parto). Hoje vejo por outro ângulo. A hora de cada um chega na "hora certinha". Enfim... não estou aqui para falar de mim (me senti uma candidata ao senado agora... ou prestes a cortar alguma fita de uma casa beneficente).

Conheço e convivo com estas três mães aí de cima... a última foto, minha fofa, minha mãe por escolha, claro convivo mais. Mas não quero falar de uma por uma. Quero ser direta: são AS mães com quem tenho o prazer e a felicidade de conviver. Cada uma com seus problemas, lutas e dores, mas sempre, eu disse SEMPRE, estão com um sorriso para mim. Até meu Quindim (sou eu! Mariana) que é de escorpião e por isso cheia das luas como eu, rsrsr. Pessoas de fibra, de luta, de sorriso em riste, de coração aberto, de maluquices interessantes... parabéns para elas três, em nome de todas as outras. Mas é delas que carrego a imagem do que é SER MÃE. Do que é cuidar, presentear com amor, fomentar caráter nos filhos. É delas que reconheço cada gesto de " Tenho que ajudar meu filhote hoje com a lição"... ou " Ela adora grão de bico".... ou ainda " Minha filha, obrigada pela cama nova... não precisava".

Não sei o que é SER mãe, por mais que eu quisesse (já não carrego mais este desejo tão vívido dentro de mim). Acho que Deus não quis, sei lá porquê...até me deu uma chance, mas perdida. Enfim, a hora é de agradecer ao Universo a convivência que tenho com estas três mães. Elas me deixam embevecida com a qualidade, o carinho, a responsabilidade e a certeza que tem em seus corações de serem mães. Parabéns a vocês três pelos filhos, pela força, pela amizade com eles, pelas lutas, pelo dia a dia e obrigada por me deixarem participar de suas vidas....

Feliz ANO das Mães!

Obs.: E se a mãe de vocês for o máximo, aproveitem-se do amor dela. A gente nunca sabe quanto tempo tem por perto..."





sexta-feira, 16 de abril de 2010

Giovana Chetto por Mariana Chetto

Como algumas pessoas já sabem, estou, junto com mais 04 mulheres, fazendo um outro blog, o Mulheres TPM - ternas, polivalentes e modernas. Somos eu, Bia e Alba (que vocês já conheceram aqui) e mais 02 outras amigas: Dri do Rio e Carlinha do trabalho. Estamos, acho que posso dizer por todas, curtindo muito. Mas conto mais sobre este quinteto depois. O fato é que o primeiro post deste outro blog foi a apresentação de uma pela outra e minha irmã, Giovana, gostou tanto que acabou soltando: eu adoraria que alguém escrevesse um texto desse tipo pra mim... Então, acabei escrevendo o 'tal' para ela. Não podia publicar no outro blog, mas ao reler achei-o perfeito para este aqui.

De: Mariana Para: Giovana

Muitas coisas importantes sobre Giovana não serão ditas. Não há como resumir tantos momentos. Momentos em que ela foi mais do que irmã, mais do que amiga, mais do que... não existe uma palavra única que possa descrever tudo que ela foi, é e sempre será para mim.

Jô é, para mim , exemplo de coragem, simplicidade e transparência. Vê o mundo de uma maneira tão simples que as vezes até me assusta. Totalmente descomplicada, ela é o que é a todo instante e não sabe usar máscaras. Algumas vezes mal humorada, é verdade, pois não tem paciência para as complicações e devaneios que a gente tece e entretece diante da vida. É comum ela não compartilhar de sentimentos tão humannos e tão normais para qualquer um de nós, como inveja, ciúme e posse. As vezes está tão na frente da gente, que se quer entende nossas aflições.

Quem a conhece apenas superficialmente pode achá-la um tanto seca, dura até, em certas ocasiões, mas na verdade é apenas seu senso prático diante dos dilemas da vida. Giovana não tem tempo para dramas. Ela vai lá e faz o que é preciso fazer ou fica quieta, se entende que não há o que fazer.

Claro que tem medo, insegurança, tristeza, decepções, mas diferente de mim que abro a boca, procuro colo, canto, leio, escrevo e exijo ouvidos muito pacientes, ou seja atrapalho a paz de todos, ela simplesmente se faz ausente, vai para seu canto. Chora, sofre o que há para sofrer e logo em seguida está de volta: novamente 'a boa e velha' Giovana de sempre. É que para ela tudo é muito natural...

Quem a conhece bem sabe que mulher generosa ela é. Capaz de amar igualmente seus filhos ou qualquer criança que precise de carinho, amor e atenção.

Sempre presente em minha vida em todos os momentos, todos mesmo, suas experiências, vivências e dores me transformaram. Sua vida traduzida em palavras, textos e frases me ensinam mais e mais a cada dia. Quantas vezes suas palavras foram conforto, força, coragem e até mesmo, sem ela se quer imaginar, sentido para esta, as vezes, tão estranha jornada...

Acho que ela não faz idéia do quanto é grande. Do quanto é linda. Do quanto é poderosa. Ela não precisa de roupas bonitas e na moda. Nem tão pouca de sobrancelhas bem feitas. Ela não precisa ser magra. Só precisa ser ela. Assim mesmo, do jeitinho que ela é. E todos se curvarão diante de tamanha beleza...

sexta-feira, 26 de março de 2010

Tudo que desejo para minha filha...

Novembro/2009
Bianca está nos Estados Unidos morando com uma família americana e fica impressionada com a certeza que seu 'irmão' tem sobre a religião dele. Parece que ele fala da bíblia com muita convicção e Bianca manda um e-mail para sua mãe perguntando sobre qual a opnião do Espiristimo (crença de sua mãe, sua avô e de boa parte de sua família) sobre a Bíblia.

Giovana responde. E Bianca responde de volta.

Esta resposta de Bianca é o sonho de toda mãe, ou pelo menos deveria ser...
Na verdade é o mais profundo desejo de todos que acreditam que nada pode ser mais importante do que plantar a semente da consciência, da certeza, paz ou simplesmente Fé.
De minha parte digo: nada poderá ser mais gratificante para mim do que ver minha filha chegar neste nível de Compreensão...

De: Giovana Para: Bianca

...Vc. não levou o livro O Evangelho segundo o Espiritismo? Se tiver levado, vai ver que ele é todo em cima da Bíblia. O livro pega trechos dos evangelhos, que compõem a bíblia, e explica estes trechos a partir da visão espírita.

Sobre o espiristimo, o que posso dizer é que uma crença antiga. Os grandes filósofos como Platão já acreditavam na imortalidade da alma e na reencarnação. O espiristimo acredita em Deus como criador de tudo e em Jesus como um ser evoluído que esteve na Terra para nos mostrar o nosso objetivo aqui – aprender e evoluir para seres capazes de amar sem restrições.

Neste sentido, a Terra é uma escola. Cada vida de um espírito é como um ano letivo. Podemos passar ou repetir. Voltar atrás nunca! É como uma escada com vários degraus. E o que faz a gente saber se estamos subindo ou se estamos parados? Para mim tem a ver com paz de espírito e consciência tranqüila. Não tem a ver com felicidade. Podemos estar tristes, mas se for uma tristeza justa, não perturba nossa paz.

O grande problema é conquistar e manter a consciência tranqüila diante dos inúmeros dilemas que a vida nos oferece:
Voto numa pessoa porque é bom para mim ou porque é bom para todos?
Proíbo minha filha de fazer algo ou deixo ela livre para correr o risco de quebrar a cara?
Xingo o motorista que me ultrapassa ou procuro me colocar no lugar dele e pensar que deve estar atrasado para algo importante? Brigo com o vizinho, pois estou com a razão ou engulo um sapo em nome da paz?

As escolhas que fazemos devem (ou deveriam) estar de acordo com o que acreditamos. Vc ta entendendo o que estou dizendo? A religião só importa se servir para guiar nossa vida. É ela que vai dizer se vamos nos desesperar por um longo período porque perdemos alguém que amamos ou se vamos chorar, guardar aquele amor e seguir em frente porque a vida não para... porque existem milhares de pessoas para serem amadas e nós restringimos nosso amor apenas aos mais próximos.

A vida nos coloca estes momentos, estes grandes sofrimentos, estes grandes dilemas justamente para ver a decisão que tomamos. Estamos prontos para perdoar? Para seguir em frente? Só vamos saber disto diante destes momentos... É porque somos fracos, muito fracos e então, se não somos empurrados, não nos mexemos e nunca chegaremos ao fim da nossa escada.

Isto não quer dizer que devemos aceitar o mal, as injustiças, a dor, como coisas irremediáveis. Quer dizer que estas coisas acontecem porque somente poucos de nós são capazes de, por decisão própria, aceitar todos os obstáculos dos caminhos certos e pular de degrau.

Esta crença é o que eu considero de mais importante para deixar para vc e para Leo. Não quer dizer que você tenha que concordar com tudo (mas tem que saber porque discorda), nem que tem que acreditar na mesma coisa. Mas pode te ajudar a construir sua própria crença.

Vc diz que reza, mas não sabe para quem. Talvez o que vc não saiba é o PORQUE.

Porque vc reza? O que vc busca? O que vc pede? As respostas estão em vc, filha. Se sente perdida, e espera uma receita pronta enviada por um ser Poderoso, não vai conseguir. Vai se decepcionar. O auto-conhecimento é um caminho difícil e demorado e é ele que nos dá grande parte de nossas respostas. O melhor conselho que posso dar se está angustiada e perdida, com dúvida, é VIVA. Viva prestando atenção a todos os momentos, a todos os detalhes. Aproveite o que vem de bom e o que vem de ruim, porque a Vida dá e diz tudo para gente, mostra os sinais, indica os caminhos. E, se a gente estiver aberta a ouvir, erramos menos.

Apesar dos amigos, da família, dos apoios que encontramos, a verdade terrível é que estamos absolutamente sós nesta busca. Mas isto pode ser tb maravilhoso porque significa que, para termos sucesso (como espíritos eternos e não como pessoas deste nosso mundinho primitivo, cheio de egoísmo, intolerância e desamor - reflexo de nós, infelizmente) só dependemos de NÓS MESMOS! Vc. é o Poderoso!

De: Bianca Para: sua mãe

Mãe,
Eu não me sinto perdida. Eu não me sinto sozinha, não me sinto angustiada, não estou em desespero. Tudo o que você disse, todas as palavras, eu já levo tudo isso comigo. Eu levo isso comigo pq aprendi isso com você, com minha familia e mãe, eu aprendi isso com a minha vida. Eu realmente fiquei impressionada com a certeza que meu 'irmão' tem sobre a religião dele. Isso me ensinou a respeitar mais as crenças das outras pessoas e a entender que todos nós temos respostas diferentes e que a verdade é relativa.

Eu sempre tive a mania de me colocar pra baixo, de me sentir mau, de 'fazer drama' como você sempre gostou de dizer. Mas hoje eu vejo isso como outra vida, outra realidade. Eu estou em paz. Eu me sinto bem com o mundo, com a vida, com as pessoas. Eu amo todas as coisas, todas as pessoas. Eu to vivendo, mãe. Eu to vivendo, e eu to aprendendo.

Quando Joâo morreu eu senti raiva. Eu senti raiva de mim, eu senti raiva de Deus. Eu senti muita raiva de Deus. Eu tentei sofrer calada, eu via a fé, a força,que você tinha, que tia Mari tinha, a força, tão incompreensível para mim, que fazia vocês irem em frente, que fez vocês aceitarem. E eu era tão pequena, e eu sentia tanto ódio que eu realmente acreditei que eu sabia mais que vocês. Que eu sabia de uma coisa horrível, de uma verdade crua, e que vocês todos viviam numa ilusão. Eu acreditei que eu nunca ia conseguir acreditar em nada de novo, pq eu tinha visto a realidade, enquanto vocês preferiam se esconder na ilusão de um Deus. Até que em um dia tudo parou. Foi como se a raiva se transformasse em saudade, e aos poucos eu pude ver o mundo de um jeito diferente. No aniversário de um ano da morte de João eu fui até o cemitério pra me despedir. Eu sei que eu não precisava estar lá pra me despedir, mas mesmo assim, era como se eu precisasse passar por aquilo de novo. Eu me libertei naquele dia.

Hoje eu vejo como minha fé era fraca, como eu era pequena. Hoje eu tenho fé, mãe. Eu tenho fé em mim. Eu tenho fé nas pessoas, eu tenho fé em voce. E eu tenho muita fé em Deus. Eu tenho dúvidas as vezes, mas não da existência Dele, e sim dos 'fundamentos' da religião espírita.

Eu sei por que eu rezo. Eu rezo agradecendo por estar aqui, pela vida que Ele me deu, rezo pela família maravilhosa que eu tenho, agradeço por ter nascido no Brasil, por ter nascido na minha família, rezo pela força que ele me dá todos os dias, rezo agradecendo por todos os dons, todas as oportunidades, agradecendo por todos os momentos, eu agradeço pelas lágrimas, pelas dúvidas, eu agradeço por cada Segundo. Eu rezo por você, por meu pai, por Leo, pela nossa família, rezo pelo meu povo, pelo meu país, eu rezo pelas pessoas que sofrem tanto, eu rezo pra que Ele ilumine essa gente que tem tanto poder pra fazer o bem mas que se deixa corromper, eu rezo pra que Ele ilumine o meu caminho. Pra que me dê coragem, pra que me dê forca. Eu rezo pra que Ele me guie, eu rezo pra ser capaz de realizar a missão que Ele me deu. Eu peço perdão pelas oportunidades que desperdicei, peço perdão por ter estado cega por tanto tempo, peço perdão pela minha incompreensão, pela minha presuncão. Peço que Ele me faça mais humilde.

E eu vivo a minha vida tão bem agora, eu aprendi que só preciso de mim pra ser feliz.

Eu aprendi que eu sou muito boa em ser feliz!

Eu tenho tanta certeza agora, mãe. Tanta certeza de quem eu sou. Não pq eu possa me definir, mas pq eu vivo de acordo com o que eu acredito. Eu não me arrependo de nada. Eu sei perdoar, eu sei me perdoar. Eu aprendi que eu não tenho controle sobre o que os outros pensam de mim, eu aprendi que nada mais importa com tanto que eu esteja fazendo o que acho que é certo. Eu aceitei que eu só posso ir até um certo ponto, e que o resto não depende mais de mim. Eu vejo a vida como um todo, eu vejo cada detalhe, e eu amo cada detalhe.

Eu sei que voce já me disse tudo isso antes, e que eu já levava tudo isso em mim desde sempre. Eu aprendi que eu tenho todas as respostas. Mas eu tb aprendi que não adianta decorar as lições que você me passou, as lições que eu imagino, as teorias que eu crio. A verdade é que eu tenho que viver e redescobrir tudo isso de novo e de novo a cada dia.

Eu aprendi que eu sou forte e que eu posso ser quem eu quiser ser.

E eu rezo também pra que eu continue evoluindo. Pra que um dia eu esteja no mesmo nível que você está, que minha vô, que Tia Mari está. Pra que um dia eu também possa passar pra alguém o que você passou pra mim.

Mãe, alivia seu coração, pq eu to bem, eu to feliz, eu to vivendo, e eu te amo. Fica em paz pq vc me passou tudo, pq vc me criou tão bem que hoje, aos 16 anos, eu me sinto completa! Eu me sinto completa mesmo sabendo que ainda tenho muito a aprender, muito a viver, muito a sentir. Fica tranquila pq eu te amo, e eu vou te amar sempre. E eu vou voltar pra você em breve.

terça-feira, 9 de março de 2010

Quando uma lua se põe, um grande sol renasce...



Prometi postar um texto desde o ano passado e embora - tenho certeza disso – ninguém vá se lembrar desta promessa e nem tão pouco me cobrar o seu cumprimento (he he he), minha cabeça fica sempre martelando... É que minha memória é incrível para as coisas escritas. O que é, no mínimo curioso, porque, também o que não está escrito até parece que não aconteceu: esqueço quase que completamente. Infelizmente esta regrinha da minha mente não vale para as grandes e fortes emoções... Seria ótimo, né? Eu escreveria todos os bons momentos para jamais esquecê-los e nunca escreveria sobre as dores e tristezas e elas simplesmente desapareceriam. Na verdade, acabei de me dar conta que no campo das emoções funciona exatamente ao contrário. Só consigo me curar das dores que estão escritas. Mesmo que não tenha sido eu quem as escrevi. Ainda bem! Porque as vezes os sentimentos são tão fortes que minha confusão mental é tão grande que eu seria incapaz de ordená-los num texto. Mas basta que eu consiga identificar o meu sentimento tão bem descrito em algum lugar... e pronto. Começa o meu processo de superação....
Foi assim com o texto a seguir. Eram palavras tão perfeitas para o meu momento que pareciam (ou foram mesmo?!)sopradas para minha amiga por algum AMIGO em comum... Foi depois de ler este texto que tudo começou a fazer algum sentido. Pude começar a ordenar minha cabeça "em chamas" e depois de ler e escrever muito encontrei o meu caminho para cura...

De: Alba Para: Mari e Marcus

"Eu vou tentar falar na linguagem simples dos índios...”Quando uma lua se põe, um sol nasce. Para que uma sol nasça, é preciso que a lua se ponha.”
A gente não compreende perfeitamente o mistério da Vida. Mas o que eu “aprendi” é que a vida é um segundo de consciência entre dois mistérios que são um. Quando a nossa lua se põe, o nosso sol renasce.
A vida e a morte são amigas, companheiras, ainda que a gente não entenda. Ainda que doa em nosso coração simples. Mas dentro da nossa dor, da nossa lua, encontramos a Força. Ás vezes, até a nossa paz, paz do dever cumprido, do amor carinhosamente dado, de poder dizer sim à Vida, numa tarefa, missão, algumas vezes árdua. Mas o Mistério nos permite isso: dizer Sim, sem muitas vezes sequer compreender o sentido. Ser instrumentos de uma sinfonia maior. Nós somos muitas vezes a ponte, apenas a ponte para uma expressão da Vida que o espírito anseia completar. E o pequeno ensina ao grande.
Mas estamos aqui, de pé, prontos para esse sim, como as árvores. Que o Grande Pai Maior, lhes cubra de bênçãos, de forças, de compreensão. E que no Silêncio do seu coração, a aceitação do que é esse mistério, lhes acalme, lhes traga essa paz. Porque o Sol de João renasceu, e onde ele Vive, ele possui um coração são que ainda não nos foi dado. E a gente se curva diante da grandeza do amor do Pai e da coragem da Mãe.
Que os meus amigos iluminados pela consciência da Verdade do espírito, os abençoem, porque “quando a lua se põe, um grande sol renasce!”

Com amor, da amiga de sempre, sempre..."

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

De: Giovana Para: Bia

Depois que me casei e comecei a pensar em ter um filho, sempre desejei que fosse um menino. Não sei ao certo o porque disso. Sempre que me perguntavam eu dizia que era porque eu achava que menino dava menos trabalho, que menina era cheia de "frescurinhas" - lacinhos, fitinhas, babados etc e que eu não tinha muita paciência para isso. Talvez fosse um certo patriarcalismo, descabido, é verdade, nos tempos modernos, mas que estava aculturado na minha cabecinha de vento... (bom, com certeza era de vento, pois a justificativa era, no mínimo, imatura e míope, né?). Outro motivo que costumava apresentar era que sempre me pareceu que as meninas eram mais apegadas aos pais e os meninos à mães. Realmente não sei dizer porque eu acreditava nisso, mas o fato é que antes eu realmente preferia ter um menino do que uma menina.
Também não sei ao certo quando foi que isso mudou dentro de mim. E agora me parece ser a coisa mas sem nexo do mundo. Justo eu que tenho tanto amor, respeito e admiração pelas mulheres da minha família? Justo eu que amo tudo que diz respeito ao Sagrado Feminino? Justo eu que tenho verdadeira paixão pelo poder, complexidade e dualidade da psique feminina? Como assim não queria ter uma filha???? Decididamente já faz algum tempo que isto não é verdade para mim... Não que eu agora prefira ter filha. Na verdade agora eu prefiro ter filhos, sejam eles homens ou mulheres... (E que fique bem claro que esta é uma opção pessoal, pois acredito que filhos devam ser sempre uma opção e não uma obrigação). Como eu disse, não sei quando exatamente isso mudou, mas sei que foi depois do nascimento de João, pois foi só depois de João que eu deixei de ser "Menina Mariana" para ser "Mãe Mulher Mariana" (se vc não entendeu, leia a postagem “"Era uma vez..." de 13/12/2009” ). Foi só depois que me transformei em "Mãe Mulher Mariana" que consegui enxergar a beleza e a sabedoria das Mulheres que estavam a minha volta, que faziam e fazem parte da minha vida... e porque não a minha prória beleza e sabedoria...
Hoje tenho uma filha, uma menina e tudo que desejo é que possamos juntas dançar "A Ciranda das Mulheres Sábias", uma perspectiva do feminino que me foi apresentada por Clarissa Pinkola Estés, mas que na verdade sempre esteve ao meu alcance na minha relação com a minha mãe, ou ali mesmo do meu lado, por exemplo, na relação de minha irmã com sua filha. É nesta ciranda de relações que juntas aprederemos, eu e minha filha, uma com a outra, a sermos cada vez mais sábias e por isso mais felizes... O texto a seguir, escrito por Giovana (minha irmã mais velha), é só uma pequena amostra, de como diria Clarissa, "da mulher em processo permanente de tornar-se sábia, ao ensinar as jovens e se reenraizarem na vida da alma... "Jovens" significando qualquer uma com menos conhecimento, menos experiência do que ela própria. Esses ensinamentos se estenderão muito adiante, dando a verdadeira vida, e não permitindo o rompimento da linha matrilinear... Nós somos as herdeiras. Todas nós pertencemos a uma linhagem longuíssima de pessoas que se tornaram lanternas luminosas a balançar na escuridão, iluminado o prório caminho e os passos de outras... Suas luzes continuam a oscilar no escuridão... através de nós... podemos ter inspirações a partir das suas inspirações. Desse modo, nos também aprendemos a passar oscilantes pela escuridão. Uma mulher assim iluminada não consegue encontrar o próprio caminho, sem também lançar luz para outras."

De: Giovana Para: Bia

"Para minha mãe, Para minha filha, Para minha neta....
Queria tanto conhecer seus pensamentos, saber o que você precisa, saber dizer para você algo que realmente te ajudasse e fizesse sentido dentro do seu modo de ver a vida. Era fácil amar e cuidar de você quando era minha menininha. Agora, eu me pergunto todos os dias “será que consegui cuidar bem desta pessoa? Consegui passar pelo menos parte das coisas que sei que vai precisar ao longo da vida? Consegui fazê-la entender que pode contar comigo sempre e que eu a amo com todo meu coração?”. Não sei.
Sei que você cresceu. É quase uma mulher. Já não posso mais decidir o que vc vai fazer, o que pensa, em que acredita, o que é bom ou mau, certo ou errado. Espero ter te ajudado a decidir estas coisas. Se não fiz, me perdoe. Eu tentei e quis isto todos os dias da minha vida. Mas eu também era uma menina. A gente nunca é grande o suficiente para ensinar a ninguém. Vc vai entender isto.
Sei também que, - apesar de eu continuar em cima de você, te enchendo para arrumar o quarto, cuidar de Leo, colocando horário para vc vir para casa, dizendo onde vc vai ou não – nosso tempo como mãe e filha está acabando. E está nascendo um novo tempo, em que meu grande desejo é ser sua amiga. A melhor. Não aquela que vc conta seus segredinhos, que é a primeira a saber dos “causos”, a companheira de gargalhadas. Esta função eu quero também, mas não preciso ser a primeira.
Eu quero ser aquela para quem vc corre quando estiver triste. Quando seu coração estiver em dúvidas quanto ao melhor caminho. Quero ser a que vc sabe que, mesmo quando fizer a maior besteira do mundo, vai estar firme, mesmo com o olhar meio zangado, mas com o coração totalmente alinhado com sua dor, com suas dúvidas. Vc entende isto, filha querida? Entende que eu realmente posso ajudar porque passei por tudo que vc vai passar?
Minhas respostas nunca serão as suas. Somos pessoas diferentes, colocadas juntas por benção de Deus. Mas se estamos juntas é porque temos sim, o que ensinar e aprender uma com a outra. Por favor, não esqueça disto em seu caminho futuro, que está cada dia mais perto de você e que te leva, inevitavelmente, para longe de mim, e para perto de novos amores, novas descobertas, novas alegrias e novas dores.
Mas eu sei esperar. Esta é a função maior de uma mãe, de uma amiga de verdade. Falar apenas quando consultada, ficar de longe, vendo vc andar sozinha, quebrar a cara, rezando baixinho que venha me procurar e perguntar minha opinião para que possa tentar evitar algumas dores. Algumas. Todas seria impossível.
E, no final, suprema alegria no meu coração, ver vc olhar para mim e perceber que vc entendeu, finalmente, tudo que eu te disse ao longo de sua vida – até mesmo esta carta que talvez não faça sentido para vc. Perceber que vc sabe que eu te amei muito e que fiz sempre o melhor que pude. Exatamente como sei que vai fazer com sua filha, minha neta ( que é para demorar muito ainda, viu? Olha lá!!! – desculpe, não resisti em dar uma de mãe).

Não se esqueça de dizer a ela que é preciso se cuidar sempre, do corpo e da alma, para que a vida seja boa até o fim. Eu não fiz isto e hoje, aos 35 anos, muitas vezes me sinto uma velha. Diga que nada nesta vida é tão importante que mereça nosso desespero. Algumas lágrimas, um tempo de luto e pronto. A vida continua e deve ser assim.
Diga que nada pode ser tão bom quanto o tempo de colégio e que ela aproveite bem o dela. E chore quando terminar cada etapa e não deixe passar em branco estas despedidas e faça como a mãe dela fez – escrever cartinhas para dizer a todos o quanto os ama! Isto será um momento inesquecível. E são eles que fazem a vida valer a pena.
Diga que o amor é a coisa mais maravilhosa da vida, mas não é fácil de ser encontrado. Diga que não troque a solidão por um amor pela metade. Não vale a pena. Diga que ela vai ter que ter muita atenção e esperteza para perceber que o amor verdadeiro( haverão muitos que não são, com certeza) chegou e mais ainda para fazer com que ele dure. Mas que esta vai ser a melhor luta que terá.
Diga que ela vai chorar muitas e muitas vezes na vida, sozinha, na cama, com a certeza de que ninguém entende sua dor. E vai ser verdade, em parte. Porque se ela correr para vc, tudo vai ficar mais fácil. Diga que ela nunca esqueça que tem uma família que a ama. A família é o abrigo de anjos que Deus colocou na terra para gente. Não deixe ela perder isto.
Diga que vão haver momentos de grande alegria – o primeiro emprego, o primeiro amor, o casamento, os filhos. E que todos devem ser curtidos com entrega total, sem medo. Porque ela merece. Todos nós merecemos ser felizes. Mas, diga que a felicidade não é algo externo ao nosso coração. Não depende dos acontecimentos, mas de como estamos com a gente mesmo. E isto é lição mais difícil. Eu nunca consigo pôr em prática direito.
Diga que ela vai precisar trabalhar muito para ter o que quer – casa, carro, viagens, roupas. E vão ser grandes conquistas. Mas lembre a ela que precisamos de muito pouco para viver. Quase tudo que juntamos em uma vida é supérfluo. Passaríamos sem. Portanto, que ela nunca troque um bom dia de conversa com um amigo, uma tarde com crianças numa creche ou uma manhã na praia com os filhos, pelo trabalho. Será uma troca injusta.
Diga que Deus pode ou não existir para ela. Mas que o amor a si mesmo e aos outros nunca pode ser uma dúvida. Diga que a religião pode não ser uma opção. Mas que a busca da paz, da harmonia e da consciência tranqüila rege a vida de todos nós e é preciso seguir esse caminho.
Por fim, diga a ela que sua mãe te disse tudo isto. Que sua mãe tinha mania de querer se meter na sua vida e de achar que sabia o que era melhor para vc. Diga que muitas vezes sua mãe te chamou no quarto e começou a falar um monte de coisas que não tinham nada a ver com o que vc queria , mas que vc a amou pela intenção (espero).
Diga tudo isto a ela. E vai ter de volta aquela cara de quem está pensando “ esta minha mãe é meio maluquinha”... E eu, esteja onde estiver, vou estar vendo isto e cochichando no seu ouvido. “Não se preocupe. Ela vai entender um dia. Quando tiver uma filha...”.

Com muito, muito amor. Sua mãe. Sua amiga.
06 de dezembro de 2007.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Meu "Rapaz Companheiro"


Em todas as postagens até agora sempre coloquei um prefácio, ou melhor, uma introdução antes do texto propriamente dito. Achei necessário e bem bacana esta estrutura e havia me comprometido a mantê-la em todas as postagens. Mas o texto deste post é diferente dos outros e estava realmente com dificuldade de cumprir o prometido... É que todos os textos até então tinham um contexto bem definido. Foram escritos em um momento específico, relativo a um determinado evento e por isso era fácil e até mesmo necessário uma introdução. Mas o texto em questão é inspirado em uma convivência de quase 16 anos... É resultado de uma incalculável quantidade de momentos partilhados... Momentos de dor, de alegria, de dúvida, de paixão, de amizade, de conflito, de dificuldades, de aperto... É impossível também qualificar todos eles... De qualquer forma posso dizer que o momento da publicação é porque em 21/01/2010, este meu "Companheiro de Viagem" completa 37 anos de idade.

De: Mariana Para: Marcus

Amigo, irmão, palhaço, amante.
Pode ser insuportável, é verdade, mas não o quero por muito tempo distante.
Simples, fácil. Completamente transparente.
Difícil, chato; mas ao contrário de mim, sempre coerente.
Preciso, exato. Por vezes totalmente equivocado, mas ainda sim presente.
Amo isso... SOR-RI-DEN-TE.
Alegre, conversador e absolutamente impaciente.
Invocado, brabo; mas capaz de gestos apaixonantes.
Leal, fiel. Família completamente.
Divertido. Preguiçoso?! Inegavelmente.
Sonhador. Sedutor... impossível lhe dizer não.
Amo-te assim, exatemente assim...
Definitivamente.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Politicamente incorreto ou racismo?

Sobre este tema, escreveu muito bem uma grande amiga que admiro e respeito muito. Não só pela sua inteligência e sensibilidade - que a tornam capaz de escrever excelentes textos, principalmente do tipo: "isso dá o que pensar..." - mas pela sua coragem em ser, para o mundo, o que ela realmente é. E para isso, caros leitores, é preciso muiiiiita coragem...
Recebi este texto por e-mail. Na verdade era uma resposta a um outro e-mail que ela havia recebido e cujo tema era: O uso do "nego" e do "neguinho". Racismo ou politicamente incorreto? O e-mail que ela recebeu discorria sobre a reflexão de uma pessoa logo após ler a expressão "neguinho" na frase de uma atriz famosa:''O lado ruim, horroroso da fama, é você estar, por exemplo, tomando um suco com o irmão e neguinho fotografa e diz que você está com um homem misterioso...''. Então esta pessoa começa a pensar: "E aí, o termo é preconceituoso ou é coisa da minha cabeça tentando ser politicamente correto. Coisa que eu abomino, mas vira-e-mexe, me pego fazendo....?" Lendo sobre o assunto, ela se deparou com o seguinte comentário no blog do Alex Castro: "Por algum misterioso e inconsciente mecanismo, alguém que não concorda com você ou que tem atitudes estranhas, inexplicáveis, insuportáveis e/ou arrogantes, seja nos seus textos, seja em conversas informais pelo Brasil afora, é chamado de "nego". Não de "sujeitinho" ou de "carinha", mas de "neguinho". Quem concorda ou age como você nunca vai cair na categoria de "neguinho". Certamente quem usa essa expressão não está indignado com as atitudes da negraiada, nem pensa em termos de raça quando fala "neguinho não tem noção". Mas provavelmente esse costume deve ter uma origem, esfumaçada pelo tempo, onde havia um componente racista." Ela acaba por concluir: "Pare pra pensar. Na maioria dos casos, realmente, usamos a expressão "nego" ou "neguinho" pra designar o outro, o estranho, mas sempre com um componente negativo. "Nego" ou "Neguinho é aquele que, em geral, faz coisas que eu não faria." Ela termina o e-mail propondo que voltemos a fala da atriz.
Quando li esta parte do e-mail, antes da resposta da minha amiga, fiquei também fazendo o mesmo processo de reflexão: o que eu penso disso? Concordo ou discordo? Não acredito em imposição de comportamento e por isso nunca acreditei em comportamento politicamente correto. Acredito sim em: ouvir, perceber. Refletir, compreender. Intenarlizar. E só então, realmente mudar... Confesso que o argumento do tal Alex, por ser lógico, real e pertinente mesmo, me deixou confusa... Mas meu pai sempre usou a expressão "minha nega", por exemplo, e decididadamente não havia outra conotação, senão carinho... e aí é preconceito ou é o bem dito "politicamente correto" querendo se estabelecer sem sentido real...
Mas a resposta da minha amiga coloca muito bem a situção... "Net, net, diriam os indianos, nem isso e nem aquilo..."

De: Alba Para: Todos
"Oi querida...vale responder...
Também detesto o politicamente correto...ele traz explícita a hipocrisia e implícita a continuidade da não aceitação seja lá do que for...mas o 'eu não aceito, não gosto e não compreendo' subsiste, acoitado pela "fina educação" que impõe o tratamento...mas ainda assim, para além dos lábios está a verdade...
Ficava sempre imaginando a história dos empregados domésticos: nunca chamei empregada doméstica de secretária. Primeiro porque ela não é uma secretária, são funções diferentes. E também porque sempre vi que as inúmeras patroas de "secretárias", assim as chamam, pensando estar no auge da educação e modernice, mas ainda não permitem que essas pessoas comam a mesma carne que elas, entrem na sala, usem o mesmo elevador, as abracem sem medo e lembre-se de seus aniversários... Continuam com aquela mentalidade escravagista que é tão entranhada em nossa classe mediazinha, em nossa burguesiazinha... Não há reconhecimento da dignidade do trabalho dessas pessoas, e da necessidade tamanha que temos delas para seguir com nossas vidas burguesas... Sem elas e sua disposição para fazer nossas camas, para lavar e passar nossas roupas, cozinhar nossas comidas não poderíamos nos apresentar no mundo Maior, mais Bonito, mais Interessante das vaidades profissionais, das reuniões sociais e de todas aquelas coisinhas fakes que tanto damos importância... well, well...
Outro dia vi uma ex-colega de colégio, no supermercado fazendo compras, ela apontando os produtos que queria e a 'secretária' pegando. Fiquei pensando naquele dedinho apontador incapaz de pegar a Q-boa na prateleira... ou outro dia, outra figurinha desse mesmo colégio que tanto amo, mas que produz aberrações também, ou melhor, que acolhe aberrações, deixando o seu baby na escola, de manhã cedinho, andando na frente bolsa a tiracolo, e a babá atrás, carregando o bebê ainda no maternalzinho (não tinha dois anos, acho...) Fiquei pensando...é, não carregamos nem nossos filhos, em nome das castas sociais...e perdem-se tantos momentos de cuidar pessoalmente da cria... Se fossem duas ou três crianças, que não se dá conta de levar e trazer da escola, vá lá... E ainda por cima a farda, para diferenciar e não haver qualquer dúvida sobre quem é quem...
Então, me pergunto: secretária para quê? Se não sou grata, se não respeito, reconheço, vejo e digo da minha necessidade da sua existência, da sua importância? Secretária para quê, se me torno um incapaz de fazer coisas mínimas a respeito da minha vida como lavar as próprias roupas, comprar a própria comida e, remotamente, até preparar um cafezinho para nós duas? Passar um café para a "secretária"???
Realmente não respeito os politicamente corretos. Respeito os conscientes que transcendem essas divisões... é o mesmo que se dá com o neguinho... Neguinho é sempre o outro. É uma herança. Mas que pode ser não validada na medida em que vemos o caráter sócio-histórico e ideológico por trás do tal neguinho lá, e vamos além das diferenças... internamente, de dentro para fora...
Quando estive no Canadá, me apaixonei pela Manitoulin Island, uma ilha grande na província de Ontario, quase que totalmente sob influência dos índios nativos norte americanos. Claro que quando me maravilhei e honrei aquelas nações, aquele povo, dormindo com eles, comendo da comida deles e tentando pertencer naquele momento àquela beleza ímpar (quem me conhece sabe que adoro a cultura indígena), perguntei algo a um canadense sobre onde estavam os índios? E ele, como os outros que estavam perto me olharam fulminantes, com tamanho horror de mim, e me respondeu rispidamente: Você quer dizer os first nations, ou os primeiros nativos das grandes nações...Wow!! Quase morri de vergonha e medo mesmo de ser linchada, mas não vi nenhum daqueles senhores reverenciarem e mudarem a miséria em que os first nations ainda vivem, pobres e fora de lugar. Não vi eles nadando com as indiazinhas naquela água tão fria daqueles lagos tão exuberantes... Os arremedos... Pois é... eu e meu índio politicamente incorreto, mas cheio de amor e admiração. Cheio de aceitação... de curiosidade, de respeito... de reverência pela forma daquelas pessoas de verem o mundo... foram dias muito bonitos os que passei com eles... Aprendi muita coisa...
Infelizmente não sou politicamente correta, até mesmo com o neguinho, diante de minha própria condição de neguinha.. .rsrs Mas a consciência chegando, naturalmente vão se desvanecendo as cores, as nações, as funções sociais.. .pela consciência, esse processo aí que você ficou fazendo! Ahaa! É isso que está por baixo do que digo, falo, faço? Hummm...
Aposto que se sair mais algum neguinho, será um dos últimos que você dirá. Não porque você é politicamente correta, mas porque você compreendeu e aceitou a nossa humanidade, de todos, de mim e do outro que me antagoniza naquele momento, mas humanamente iguais... e tudo se desidentifica. Aí, não falamos mais. Ou se falamos, falamos um neguinho carinhoso, meu neguinho, minha neguinha... minha empregada que cuida muito bem de mim, meu funcionário fiel, minha sogrinha, meu vizinho, minha madrasta, meu filho adotivo do coração... meu professor que fez aquilo que sou hoje, meu padeiro, e por aí vai.. .Não é fantástico?!
Net, net, diriam os indianos, nem isso e nem aquilo... nem muito e nem tão pouco. Nem neguinho, nem hipocrisia, mas profunda aceitação do outro e de nós mesmos... e aqueles que, de repente, não significam nada para nós porque nos antagonizam, passam a ser parte da gente, ou são mesmo a gente em muitas outras condições.
Um avião cai e todos morrem: neguinhos, first nations, europeus, branquinhos, japas dos olhos puxadinhos, aborígenes... todos morrem.
Todos morrem e todos fedem.
Todos fedem e viram adubo nessa terra maravilhosa.
Viram adubo e florescem lindas flores, lindas rosas, tulipas, margaridas... enfim..."