quarta-feira, 10 de outubro de 2012


De: Mariana       Para: Futuras Mães

E novamente enchi o ventre de esperança... Novamente cheia, completa. Novamente aquela sensação constante e permanente de estar inteira ali.

Infelizmente poucas vezes consigo segurar este estado fora da gestação.  E por isso sei dizer o momento exato que deixou de ser. Naquele lugar dentro de nós onde tudo é calmo e cristalino, onde habita “aquela que sabe”, a grand mère, a anciã... Naquele lugar, eu sabia que não ia ser...

Claro que neguei no nível racional e até mesmo emocional. Lutei contra este “saber” até ver ali na tela a esperança sem bater, parada, entregue aos mistérios do ir e vir, do sim e do não, do sol e da lua, dos opostos que são na verdade um só: morte e vida, vida e morte.

E o que não poderia ser, não foi e se foi...

Desceu, ou melhor, subiu, flutuou, dissipou-se em mim, nele, em nós, no universo, no emaranhado de forças que é a vida. Saiu desta cena para mais tarde dar espaço a uma outra esperança.

O mais espantoso é que foi fácil.

Isso mesmo: foi fácil. Não por que não desejasse (Ah! Deus e eu agora sabemos o quanto eu desejava...). Foi fácil porque assim que entreguei ao Universo esta promessa e deixei que a natureza seguisse seu curso inevitável e incontrolável, desempenhasse seu papel, sua essência, sua “natureza”; encerrei este capítulo.  

Mas como consegui encerrar?

Porque só pensava na minha pequena de olhos verdes, minha Maria... Minha menininha com sorriso de acender a luz do meu coração...  Aquela luz plantada, lá atrás, pelo meu Raio de Sol João. Só pensava em como ela ia receber a notícia, em como contaríamos para ela que a “sementinha-bebê da barriga da mamãe” não estava mais lá. Em como ela deveria estar sentindo a minha falta nestes dias que não pude participar como sempre de sua vida... Eu só pensava numa coisa: quando ela ficasse bem  tudo ficaria bem. E para isso eu tinha que ficar bem.

Daí me dei conta que foi fácil porque eu tenho 02 filhos... Porque meu pequeno Raio de Sol João entrou na minha vida e, embora tenha permanecido aqui ao meu lado por apenas 3 anos e meio, ele plantou a mais bela semente de luz, paz, amor. Uma semente de fé que sob meus cuidados, sob uma parede familiar de afeto e proteção e ainda regada por Maria, a mais linda jardineira que Raio de Sol João me enviou, se mantém ali, sempre presente. É verdade que às vezes fica fraca, é verdade sim, mas nunca apagada...

E assim me dei conta de mais uma coisa. O quanto seria difícil se esta fosse a minha primeira promessa de vida. O primeiro desejo de mãe abortado, a primeira esperança que se vai...

Então, neste momento me comovo e me solidarizo com estas futuras mamães que acabaram de viver esta experiência. Neste momento todas as minhas orações e preces vão para elas. Digo futuras mamães porque tenho certeza que elas serão. Tenho certeza que de uma forma ou de outras elas serão Mães. Algumas, talvez, não exatamente pelo caminho mais óbvio, mas como desejam realmente sei que acontecerá. De uma forma ou de outra serão mães. Porque a natureza segue seu curso, é verdade, mas o Universo sempre trás novas esperanças para aquelas que sabem ouvir a voz da grand mére, a voz do coração...